quarta-feira, 17 de março de 2010

Ana Carolina chega a BH e Sete Lagoas para comemorar 10 anos de carreira


Sem intimidade com as partituras, mas mestre na matemática dos sons, a menina autodidata que nasceu em berço musical (o avô era cantor de igreja, a avó cantava nas rádios e os tios-avós tocavam percussão, piano, cello e violino), teve como primeira paixão o violão, aos 12 anos. “No começo, eu não pensava em cantar. Acabou sendo natural”. Depois veio a guitarra, o pandeiro, a aposta no timbre forte da voz, e o palco improvisado no salão de beleza da mãe, onde um rolo de cabelo servia de microfone para os versos de Caetano, começou a ficar pequeno.

Mineira de Juiz de Fora, ela lembra do início da carreira, quando tinha 16 anos e começava a tocar pelos bares, entoando sua voz marcante para interpretar Chico Buarque, Tom Jobim, Ary Barroso, Edu Lobo, entre outros, além de canções próprias. E já imprimia nestas leituras a marca que lhe é peculiar. “Você não deve simplesmente cantar as músicas dos outros. Tem que colocar a sua personalidade”, revela.

Com o apoio da amigas e empresárias Luciana David e Keley Lopes, duas estudantes de Comunicação que gostaram do que ouviram, os convites iniciais a fizeram rodar, com o amigo percussionaista Knorr, alguns quilômetros da Zona da Mata mineira, e trouxeram a inspiração para as primeiras composições. Participações em shows maiores, presença cada vez mais constante, até que os traços intensos da artista chamaram a atenção de Luciana de Moraes, neta de Vinícius, que em 1999 seria o suporte para o primeiro álbum, Ana Carolina. Uma composição oferecida por um espectador de seus shows, José Antônio Franco Villeroy, que depois se tornaria grande amigo e parceiro, começaria a dar um novo rumo a esta história. “O ponto crucial foi quando a música Garganta estourou com a novela Andando nas Nuvens, e eu comecei a ficar conhecida”, conta ao Portal Uai.

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Pouco mais de uma década depois, a cantora, compositora, arranjadora, produtora e multiinstrumentista conquistou seu lugar na MPB, com mais de 5 milhões de cópias vendidas para nove álbuns, cinco DVDs, além de vários prêmios e composições gravadas por nomes importantes da música nacional e internacional. Para comemorar os 10 anos de carreira, Ana Carolina chega à terra natal com dois shows especiais nesta sexta e sábado. No dia 19, em Sete Lagoas, o público vai cantar os sucessos iniciais e o repertório mais recente de N9ve e Ana Car9lina um, e, no dia seguinte, em BH, a artista apresenta o show N9ve, que estreou em novembro em São Paulo e está em turnê pelo país, além de hits dos últimos anos.

“Este é o momento de celebrar o resultado de trabalho intenso e dedicação. Muita coisa me marcou, e eu quero compartilhar isso com os fãs”, diz. Para tanto, o set list inclui O avesso dos ponteiros, Que se danem os nós, A canção tocou na hora errada, Nada pra mim, sem deixar de lado É isso aí, Rosas, Elevador, e o repertório de N9ve e Ana Car9lina um, mostrando a parceria mais constante com Antônio Villeroy, e com o americano John Legend em Entreolhares, convida ela que se envolve em cada jornada de corpo inteiro, participando da concepção da primeira nota até os detalhes de uma megaprodução.

Agora reformulada, a banda que a acompanhará nos shows traz Marcelo Costa na bateria, Leonardo Reis na percussão, Danilo Andrade nos teclados, André Rodrigues no baixo e Pedro Baby nos violões e guitarras. Entre as surpresas, também está a inclusão de músicas nunca antes cantadas por Ana, como Bom Dia (Swami Jr), acrescentada ao roteiro depois da interpretação em dueto com Zizi Possi, e Odeio, de Caetano Veloso, ao estilo rock'n'roll. A bem-humorada Essa Mulher, de Arnaldo Antunes, casou com o espírito despojado do show, assim como o bloco de sambas, que mistura o sucesso Ela é bamba com Não Quero Saber Mais Dela, do repertório do Fundo de Quintal e Torpedo, parceria com Mombaça e letra de Gilberto Gil.




Lugar garantido na música

O lançamento do segundo trabalho em 2001, Ana Rita Joana Iracema e Carolina (uma referência às mulheres de Chico Buarque), seria a prova de que a mineirinha que chegava mansinho tinha vindo para ficar, e não seria um mero produto midiático. Com 11 letras compostas por ela, o álbum vendeu mais de 100 mil cópias, ficou por duas semanas com o segundo mais vendido do Rio de Janeiro e São Paulo e, em 15 dias, foi contemplado com o disco de ouro, depois de platina, ultrapassando a marca de 300 mil exemplares. O tiro certeiro no single Quem de Nós Dois (La Mia Storia Tra le Dita), versão de Ana e Dudu Falcão para um sucesso italiano dos anos 1990, que fez parte da trilha de mais uma novela das sete (Um Anjo Caiu do Céu), a consagraria como a nova promessa da MPB. “O disco foi extremamente importante, porque eu tinha que mostrar que não era apenas um sucesso meteórico, mas tinha algo a dizer”, recorda.

Ana Carolina lembra dos próximos passos. Em agosto de 2003, o terceiro álbum, Estampado, com uma pegada rock'n'roll, violão nervoso, 13 canções próprias e novos parceiros (Chico César e Seu Jorge), traria seus contornos em todos os batimentos, com gritos fazendo o papel de verdadeiras confissões. Depois, lançamento do DVD de Estampado, no mesmo ano, do segundo DVD Estampado - Um Instante Que Não Pára, (gravado no Claro Hall, com a presença de 9 mil pessoas, versão onde é possível encontrar as canções Vestido Estampado, Sinais de Fogo, Outra Vez e Eu Gosto é de Mulher, sucesso do Ultraje a Rigor); CD Perfil; álbum e DVD Ana & Jorge, em 2005, com a parceria com Seu Jorge e o estouro de É isso aí. Em 2006, no disco duplo e no DVD Multishow Ao Vivo Dois Quartos, com uma fase mais madura, criativa e ousada, Ana mostraria Cantinho, numa letra cheia de desejos proibidos, e Eu Comi a Madonna, em que fala de mulheres provocantes, além dos destaques de Rosas e Carvão. Em 2009, tango eletrônico, samba, salsa e bossa nova comemoram os dez anos de carreira em N9ve e Ana Car9lina um, emplacando o single Entreolhares com a participação especial do americano John Legend.

Entre a satisfação em ter uma música gravada por Maria Bethânia (“isso foi mesmo marcante”, diz), as parcerias com Chico César, John Legend, Luiz Melodia, Maria Gadú, Mart'nália, Gilberto Gil, Seu Jorge, Totonho Villeroy, e agora a companheira constante Esperanza Spalding, como cita apenas alguns momentos, Ana revela o que a faz feliz: “uma canção”. No cinema, Bergman, na música, a eterna referência de Chico Buarque, na literatura, muita poesia com Cecília Meireles e Drummond. A menina que cresceu ouvindo Chico, Bethânia, Nina Simone, Björk e Alanis Morissette bebe em várias fontes para buscar inspiração. “Na música atual, tenho escutado a Gadú, que para mim é mesmo uma revelação muito significativa. Mas, como houve a bossa nova e o tropicalismo, não acredito que vá haver, atualmente, uma revolução na música, a criação de um novo estilo. No máximo, as fusões – o samba e o xaxado, o som eletrônico. Acredito nos ideiais pessoais de cada artista, mas não vislumbro uma ideologia musical maior”.

Quanto à política, é taxativa, e alfineta. “Toda vez que me perguntam sobre isso, eu não sei muito o que dizer e acabo falando do que li nos jornais ou vi a televisão. Mas agora não sei até que ponto estes meios de comunicação estão intrincados nos mesmos interesses. Então, prefiro não comentar”. Para uma juventude que, Ana acredita, através do Google hoje pode ter o mundo nas mãos (“no meu tempo, para fazer uma pesquisa para o colégio, tínhamos que consultar a enciclopédia”), a artista de 35 anos mostra como a vida deve ser aproveitada com paixão, dedicação, honestidade e, acima de tudo e do culto da forma, muito conteúdo.

Ana Carolina no Estação Brasil, em Sete Lagoas: 19 de março, sexta-feira, às 22h, com ingressos a partir de R$ 25. Ana Carolina apresenta N9ve em Belo Horizonte: 20 de março, sábado, às 22h, no Chevrolet Hall (Av. Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi). Ingressos entre R$ 70 e R$ 120 (inteiras, variando de setor – cadeira, pista e arquibancada – e lote), e R$ 35 e R$ 60 (meias, variando de setor – cadeira, pista e arquibancada – e lote). Informações no 3209-8989.

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