domingo, 15 de novembro de 2009

A Hora da Virada - DJ Zé Pedro fala sobre a estréia ontem em SP.

Ana Carolina mudou. Prá melhor. A estréia do seu show ontem em São Paulo de frente para um Credicard Hall lotado demonstrou isso. Sua platéia também já é outra. Diante de sua rainha, mulheres enlouquecidas deram um tempo em sua histeria para novamente prestarem atenção no essencial que tanto idolatram. Ana chega ao palco em pleno vôo através de uma grua que a faz levitar sobre seus súditos cantando uma de suas esquecidas no tempo e mais belas canções, “Que Se Danem os Nós” de seu segundo álbum. Quando volta ao chão já é outra: seus marcantes cabelos cacheados e sua maquiagem pesada não estão mais lá, desfazendo um personagem que já mostrava sinais de desgaste. Claro que o preto ainda é a cor de seu figurino, mas seu rosto está mais real longe dos aparatos visuais de sempre. A banda concentrada no lado esquerdo do palco numa plataforma que os deixa distantes da intérprete, e o cenário que também acontece ao longe, deixam Ana Carolina mais exposta e por isso muito melhor. Definitivamente esse é o seu melhor roteiro de show. As canções se desencadeiam numa seqüência em que todas se justificam e se agigantam se comparadas ao passado ou ao resultado do seu mais recente álbum “Nove”. A escolha inesperada das músicas de outros autores também é certeira ao trazer para si o discurso sexual latente de “Essa Mulher” de Arnaldo Antunes e “Odeio” de Caetano Veloso, canções que se encaixam perfeitamente no perfil da compositora que traz consigo e em suas letras um perfil desafiador e sensual. A performance dos músicos em momento solo também é um dos melhores momentos do show ao trazer novos ares para a canção “Bom Dia” de Swami Jr imortalizada por Zizi Possi e que Ana consegue refazer com grande novidade. Seu já também conhecido medley de canções de sucessos apresentado de forma a parecer uma única canção, também é um dos melhores momentos quando Ana mistura seu desgastado hit “É Isso Aí” com uma de suas mais brilhantes composições “O Avesso dos Ponteiros”, novamente sobrevoando o palco sobre uma platéia agora já incorporada ao espetáculo e aplaudindo de forma civilizada e consciente o que está diante de seus olhos. A solução encontrada para “O Cristo de Madeira” de seu álbum “Dois Quartos” com forte percussão e citação de“Construção” de Chico Buarque trazem novos e fortes significados para a canção num dos momentos mais aplaudidos do show. Ao cantar “Corredores”, uma forte chuva cai do teto do teatro fazendo impactante moldura para os versos que dizem:“quem visitou os corredores da minha alma soube dos meus erros e dos nós que fiz”. Os textos escolhidos também estão entre os melhores momentos do show e muito bem encaixados no roteiro podendo aparecerem no meio das músicas de forma inesperada ou como forte prenúncio de uma próxima canção. Ao final Ana aposta no óbvio com “Rosas” uma de suas piores músicas gravadas mas com forte apelo popular. Ao estranhar a distância da turba enlouquecida, Ana chama para frente do palco seu exército que prontamente atende ao seu chamado derrubando mesas e quem mais se interponha entre eles e sua musa. Mas aí era tarde demais: Ana já tinha se revelado novamente potente e iluminada, concentrada em seu ofício ao longo de um show, que volto a dizer, aposta todas as suas fichas num repertório coeso e inteligente, trazendo novamente um olhar atento para sua carreira, que dez anos depois de um inicio de não se esquecer, um meio duvidoso e um final que parece ainda longe de se aproximar, merece as glórias que desfruta.

Fonte: Blog do DJ Zé Pedro.

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